terça-feira, 6 de maio de 2008

A moralidade do nosso cérebro

O bem e o mal, a moralidade, a empatia mas também a ferocidade e a selvajaria estão profundamente gravados nos nossos genes. A ciência tenta agora decifrar alguns dos códigos da nossa nobreza e da nossa animalidade.



O psicólogo Marc Hauser cita um estudo em que casais eram sujeitos a visualização por ressonância magnética funcional (fMRI), enquanto submetidos a uma dor moderada. Avisados de que um estímulo doloroso ia ser aplicado, o seu cérebro iluminava-se de uma forma característica, indicando um temor moderado. Era-lhes, então, dito que não iriam sentir desconforto, mas que o seu parceiro sim. Mesmo quando não podiam ver o seu parceiro, o cérebro dos sujeitos iluminava-se precisamente da mesma maneira, como se estivessem em vias de sofrerem eles a dor. “Isto é muito uma experiência do tipo “Eu sinto a tua dor” diz Hauser.

O cérebro trabalha mais quando a ameaça se complica. Um cenário preferido dos investigadores da moralidade é o dilema do comboio. Estamos perto de uma linha e uma vagoneta descontrolada avança contra cinco pessoas incautas. Há uma agulha próxima que a desviaria para uma linha lateral. Accioná-la-íamos? Claro. Salvam-se cinco vidas, sem custos. Mas suponhamos que, na linha lateral, está um só homem incauto. Agora, a pauta da moralidade é de 5 para 1. Matá-lo-íamos para salvar os outros? E se o homem inocente estiver connosco na plataforma da vagoneta e, porque é mais forte, tivermos de o empurrar para a via, para parar o veículo?

Se colocarmos estes dilemas a pessoas em observação com fMRI, as imagens tornam-se confusas. Usar um computador para desviar a vagoneta contra uma pessoa em vez de cinco aumenta a actividade no córtex pré-frontal dosolateral – O lugar onde são feitas as escolhas frias e utilitárias. Complicando as coisas com a ideia de empurrar a vítima inocente, ilumina-se o córtex frontal medial, uma área associada ás emoções. Enquanto estas duas zonas se confrontam, podemos tomar decisões irracionais.

Para os neurocientistas, o caso Phineas Gage, o ferroviário de Vermon que, em 1848, foi ferido, quando uma explosão lhe fez penetrar um varão de ferro pelo córtex pré-frontal. Espantosamente, sobreviveu, mas passou a apresentar fortes mudanças comportamentais – tornando-se desligado e irreverente, embora nunca criminoso. Desde então, os cientistas têm procurado as raízes do assassínio em série no estado físico do cérebro.

Um estudo publicado, no ano passado, na revista NeuroImage, pode ter contribuído para encontrar algumas respostas. Investigadores ligados ao Instituto Nacional de saúde mental dos EUA registaram imagens do cérebro de 20 voluntários saudáveis, observando as suas reacções quando colocados perante vários cenários legais e ilegais. A actividade cerebral que seguia mais de perto os hipotéticos crimes – subindo e descendo conforme a gravidade dos cenários ocorrida na amígdala, uma estrutura profunda que nos ajuda a fazer a ligação entre os actos maus e a punição. Como nos estudos com o comboio, também havia actividade no córtex pré-frontal. O facto de os sujeitos não terem tendências sociopáticas limita o valor das verificações. Contudo, saber como o cérebro funciona se as coisas correm bem ajuda a procurar perceber o que se passa quando a realidade dá para o torto.

























Adaptado do artigo «Os segredos do bem e do mal» por Jeffrey Kluger, Tiffany Sharples e Alexandra Silver in Visão nº 774

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