terça-feira, 6 de maio de 2008

Como é que o nosso cérebro vive o amor?



Estudos do cérebro com visualizador por ressonância magnética funcional (fMRI) mostram porque razão sabe tão encontrar a pessoa certa e com ela o amor verdadeiro. Os primeiros fMRI de cérebros apaixonados foram feitos em 200, e revelaram que a sensação de romance é processada em três áreas. A primeira é a ventral, uma massa de tecido nas regiões inferiores do cérebro, que constitui a principal refinaria de dopamina do corpo. A dopamina desempenha muitas funções, mas aquilo que mais notamos é que regula a recompensa.

Helen Fisher, antropóloga da Universidade Rutgers e os seus colegas realizaram visualizações recentes com fMRI em pessoas apaixonadas e constataram que as suas áreas do tegmento ventral funcionavam com grande intensidade. «Esta pequena fábrica, perto da base do cérebro, está a enviar dopamina para as regiões superiores…Cria ânsia, motivação e êxtase.»Diz Fisher.

Mesmo com este abastecimento intoxicante de dopamina, o tegmento ventral não pode fazer sozinho o trabalho do maior. O núcleo de accumbens, situado ligeiramente mais acima e a frente do tegmento ventral, tem a função de transformar a satisfação por um novo parceiro em algo mais próximo de uma obsessão.

Os sinais de euforia que começam no cérebro inferior são processados no núcleo accumbens através não só da dopamina mas também da serotonina e da oxitocina que responsável pelas ligações que estabelecemos com as pessoas. Exemplo disso, são as parturientes que são inundadas por esta substância, razão pela qual se ligam tão ferozmente aos seus bebés. A oxitocina é tão poderosa que um estranho pode parecer atraente apenas por ter entrado na sua linha de fogo.

As últimas paragens importantes para os sinais do amor no cérebro são os núcleos caudados, um par de estruturas de cada lado da cabeça, cada um com o tamanho aproximado de um camarão. É aqui que são armazenados os padrões e os hábitos como saber dactilografar ou conduzir. Aplicando a mesma permanência destas capacidades motrizes ao amor, não admira que a paixão inicial se transforme tão depressa em compromisso duradouro.

A ideia de que apenas uma parte primordial do cérebro está envolvida no processamento do amor seria suficiente para tornar o sentimento poderoso, o facto de estarem envolvidas três torna esse sentimento poderoso incontrolável.

Quando as hormonas e os opióides naturais são activados, explica o psicólogo e investigador sexual Jim Pfaus da Universidade Concórdia de Montreal, começamos a estabelecer ligações à pessoas que estava presente no momento em que essa boas sensações foram criadas. «Pensamos que alguém nos fez sentir bem, mas foi o nosso cérebro que nos transmitiu essa sensação.» Diz Pfaus. Podemos assim perceber o porquê de pessoas que se envolvem sob o efeito de álcool e drogas, quando ficam sóbrias não acham a situação admissível.

Fisher também está a realizar estudos com fMRI em pessoas que foram rejeitadas, e nestes sujeitos existe actividade nos núcleos caudados assim como nos apaixonados, mas esta actividade ocorre especificamente numa parte adjacente a uma região cerebral associada à dependência. Se as duas áreas de facto se sobrepõem como Fisher suspeita, pode explicar-se porque é tão inútil dizer a um apaixonado que deve seguir em frente como dizer a um bêbado que ponha a rolha na garrafa.


Adaptado do artigo «Porque Amamos» por Jeffrey Kluger, in Visão nº 778


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