Mente Humana vista ao longo dos séculos
"Apesar de não poder ser tocada ou vista, a mente está mais intimamente ligada com o nosso interior do que os nossos próprios corpos: nós podemos idealizar uma existência futura sem usar o corpo, mas não podemos imaginar nenhum tipo de existência sem usar a mente."HART, W. (1987) The Art of Living: Vipassana Meditation as Taught by S. N. Goenka. New York: Harper USA
O conhecimento científico da mente humana tem avançado desde a fundação da Psicologia. Aspectos biológicos e culturais, psicológicos e neurológicos, emocionais e racionais foram privilegiados separadamente em diferentes épocas e perspectivas – a visão de mente foi por vezes focalizada e por vezes relegada à caixa preta da ciência psicológica.
Actualmente, assiste-se a uma procura de integração entre mente e os comportamentos humanos. A mente é vista como objecto da ciência e produto da selecção natural na evolução da espécie do Homo sapiens sapiens.
Existem várias dúvidas e dissonâncias acerca da “forma” da mente.
A mente como matéria. A principal argumentação do Materialismo é que nada existe além da matéria e das suas propriedades. Tales de Mileto, há 2500 anos, falava-nos das quatro substâncias em que tudo se originava: a água, o ar, o fogo e a terra. Anaxágoras definiu o Nous (Mind) como "a mais pura e refinada de todas as coisas" que ocupa lugar no espaço.
A mente como imaterial. Platão foi o primeiro a defender explicitamente a doutrina de que a mente é inteiramente não material — sem as definições das propriedades da matéria como tamanho, forma ou impenetrabilidade. Platão usou a palavra psyche (traduzida como "alma")
O imaterialismo. Alguns filósofos adoptaram a doutrina do imaterialismo, chamada assim por Berkeley, um dos clássicos empiristas britânicos, segundo o qual, tudo o que existe é mental. Adopta o modelo da Mente divina e a multiplicidade de mentes finitas em que inclui todos os homens.
Ao longo dos séculos, assitimos a várias concepções e opiniões sobre a mente humana. Apresentamos de seguida, algumas das mais célebres:
- Concepção de Aristóteles
Aristóteles defendia uma visão baseada num contraste entre cérebro e coração, afirmava que o coração era o órgão do pensamento, das percepções e do sentimento, enquanto o cérebro seria importante para a manutenção da temperatura corporal, agindo como um agente refrigerador. O coração, segundo este pensador, era o centro do organismo e por isso controlava o nosso corpo, e em oposição aparecia o cérebro, localizado numa periferia, não exercia qualquer controlo sobre o corpo humano. Acrescentava ainda que ao passo que o coração tinha sangue, o cérebro não era irrigado pois estava isolado, não estabelecia ligações com nenhum outro órgão. A conclusão a que chegou Aristóteles foi a de que o Homem pensava com as emoções, e por isso pensava com o coração.
- Concepção de Leonardo da Vinci
Leonardo Da Vinci foi outro pensador que não deixou de contribuir para a evolução do conhecimento do cérebro humano. Indo de encontro àquilo que era aceite na época – a existência de 3 ventrículos cerebrais – o filósofo acreditava que as sensações deveriam localizar-se no ventrículo médio porque, nas suas imediações converge uma grande quantidade dos nervos cranianos.
- Concepção de Descartes
A filosofia de Descartes assentava numa noção de corpo e mente como dois elementos separados: a alma (razão pura) é independente do corpo e das emoções, não ocupa lugar no espaço e por isso a mente é um tema inacessível ao estudo científico. Descartes colocou o centro da interacção entre as duas substâncias na glândula pineal, pequeno corpo localizado no centro do cérebro. Ele considerou que mente e corpo se encontrariam ligados neste ponto devido à sua localização geométrica, no entanto nada estava cientificamente provado.
- Concepção de Freud
Freud colocou uma questão a si próprio: “Seria impossível compreender os processos patológicos se só se admite-se a existência do consciente?” Freud introduziu na sua filosofia os conceitos de consciência, pré-consciente e inconsciência. A parte mais abrangente do psiquismo humano corresponde ao inconsciente (pulsões inatas, fobias, tendências e desejos fundamentalmente de carácter afectivo-sexual) cabendo-lhe assim um papel determinante no comportamento.
A parte menos abrangente do psiquismo humano corresponde ao nosso consciente sendo constituída por imagens, lembranças, ideias que se podem evocar e conhecer. A ponte entre estas duas noções é feita pelo subconsciente (pré-consciência) constituído por conteúdos passíveis de aceder à consciência. Com a filosofia de Freud e os seus métodos terapêuticos, dos quais se destaca a hipnose, a sociedade passou a dar mais importância às motivações inconscientes, às experiências infantis e aos seus reflexos na idade adulta.
- Concepção aceite no Quotidiano
Mente é o instrumento humano de gestão, de aprender e de pensar. Necessária para a formação do ser humano, a mente é uma estrutura bioelectrónica altamente complexa com organização sistémica que capacita o indivíduo na autonomia para dirigir a própria existência no tempo e resolver a si mesmo no espaço.
Adaptado de:
1 comentário:
A hipnose não é o método mais usado por Freud, mas sim a associação livre e a interpretação dos sonhos.
Bom trabalho!
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